quarta-feira, 17 de agosto de 2022

Por um Estilo Tribal Brasil(eiro) pt.2

 A única época em que sofri bullying na escola, eu ouvia aos berros enquanto passava, que eu era “baiana". Era bem nova e ficava pensando naquilo... Baiana é quem nasce na Bahia, oras! Isso não é xingamento! Para ela (loira de olhos azuis) e para muitas pessoas aqui da região sudeste, ser "baiana" implicava em se vestir ou usar roupas ou acessórios chamativos ou que não combinam.

Anos depois, penso que a Carmem Miranda imitava uma baiana com trajes típicos e fez carreira em cima da imagem. Sua figura é icônica até hoje, e nem brasileira ela era. Penso que tive o prazer de visitar a Bahia duas vezes a trabalho e que amei tudo que vivi lá. Penso que tenho amizades com pessoas incríveis da Bahia, e Salvador é uma das cidades que visitei que mais me encantou. 

Na Bahia também, presenciei um comentário de uma bailarina estrangeira que dizia que geralmente vendia as roupas mais coloridas "em lugares como esse aqui", com um tom de ironia. 

Então quem sabe a ironia da gringa é a mesma do país, das partes Sul e Sudeste principalmente, que ainda menospreza uma porção tão grande de seu território por uma visão eurocêntrica. 

A visão que nos separa e consolida a falta de senso de identidade na dança, na vida. Espero que ainda haja espaço para nos apropriarmos de tudo que temos de bom, tudo que podemos ser. Especialmente com as eleições chegando. Que a gente vote pelo país inteiro e não só pela parcela que já tem o que é necessidade básica, olhando só para o próprio umbigo e para o eixo “padrão global” Rio-SP.

E se hoje em dia já se sabe que é feio menosprezar o lugar de nascimento de alguém, ainda carregamos muito desse preconceito escondido (nem tanto). Que possamos evoluir para além desse pensamento colonial. 

quarta-feira, 3 de agosto de 2022

Por um Estilo Tribal Brasil(eiro)

Pessoalmente está muito marcante o tema do estilo tribal brasileiro nas últimas semanas. 
Não no sentido de "Fusão Tribal Brasil", mas num sentido de identidade. Algo que nos distinga, que faça com que ao redor do mundo sejamos reconhecidas por essa marca. 

Temos nossas peculiaridades na constituição física e no movimento. Porque então não temos uma marca específica, algo que faça as pessoas comentarem "ah sim, aquele estilo das brasileiras, sei como é!"...

Já crescemos demais e temos um bom número de profissionais qualificados. Mas, ainda podemos amadurecer mais no quesito de apropriação do estilo. Já sabemos toda sua linhagem e o que podemos alcançar com a criatividade que nos permite.

Temos referenciais do estilo norte americano, europeu e russo por exemplo, bem delimitados enquanto "escolas". Vejo diversas linhas nos EUA, seguindo mais as fontes de Jamila Salimpour ou Masha Archer, ou mais modernizados com referências do "The Indigo" e suas integrantes ou até mais puxado para o  cabaret americano. Vejo o estilo europeu como mais experimental, mais "simplificado" nos trajes e puxado para a dança contemporânea. O estilo russo tem os trajes mega brilhantes, deslocamentos, movimentos de impacto, muito alongamento, pernas e braços e uma tendência para músicas eletrônicas ou para o lado dos Balkan (sem surpresa aí rs). 

Gostaria de poder acrescentar a essa lista características bem brasileirinhas em que puxamos a sardinha para nossos pontos fortes! Investir em investigar o que podemos trazer de único para o estilo em termos de movimento, leitura musical e onde estão nossas afinidades em relação às raízes, sem "estar devendo" ser longilínea e ter o quadril estreito, entre outras coisas que se distanciam dos padrões da grande maioria de nós por aqui!