quarta-feira, 14 de setembro de 2022

Be-a-bá do Tribal

 Resolvi dar uma revisada nesse texto e postá-lo novamente! Às que estão começando a estudar agora, o be-a-bá do Tribal! O que são todos esses gêneros dentro de um gênero que ainda é tão novo e desconhecido? Vamos lá!

Com tantos estilos e rótulos é bem fácil confundir-se com as nomenclaturas no tribal. Por isso, coloco aqui os principais nomes que encontramos:


*** Tribal - Genérico, assim sem nenhuma especificação, geralmente faz referência ao Tribal Fusion ou ATS® versus a Dança do Ventre, mas também pode significar uma dessas duas danças distintas:


1) Danças regionais típicas de diversas partes do mundo, o que é um problema em si, pois na visão ocidental em geral, são consideradas “tribos” apenas as populações não-brancas ou de povos originários.


2) O estilo tribal "original" feito pela Jamila Salimpour e sua trupe Bal Anat nos anos 60, na Califórnia. Caracterizava-se por diversas danças árabes tradicionais misturadas em um só show. Trabalho em grupo e solo, uso de snujs, uso de coreografia e danças folclóricas com um "tchan". Porém, deve-se observar que esse estilo de "tribal" demorou para ser chamado assim na época. De qualquer forma, foi o estilo que deu início ao movimento tribal que temos hoje em dia, pois Jamila deu aulas para Masha Archer, que deu aulas para Carolena Nericcio, que criou o ATS®.


*** American Tribal Style® ou ATS®, agora renomeado de FCBD Style (FatChance BellyDance Style)


O ATS® nasceu no final dos anos 80 em São Francisco, CA. Quando a trupe de Masha Archer, chamada "San Francisco Classic Dance Troupe" se desfez, Carolena começou a dar aulas para que tivesse parceiras com quem dançar. Suas aulas tornaram-se populares entre as pessoas mais alternativas que queriam fazer dança do ventre mas não se encaixavam nos padrões estéticos da dança na época. Da sementinha deixada por Masha, Carolena continuou a plantação, e criou o estilo que veio a ser chamado de ATS®. Segundo ela, o "american" do título deixava claro que era uma criação americana, e portanto não oriental, e o "Tribal"descrevia a sensação estética da dança, com mulheres dançando juntas, em tribo, e com uma mistura de trajes autênticos de diversas partes do mundo. O ATS® é um estilo de improvisação coordenada em grupo em que, com base em um repertório comum a todas as bailarinas do estilo, cria-se uma dança improvisada por meio de sinais, chamados de "cues". Para dançar ATS® precisa-se no mínimo de duas pessoas, e o repertório de movimentos vem principalmente da dança do ventre, mas também tem forte influência do flamenco nos braços e postura, e pitadas de danças folclóricas do Oriente Médio e danças clássicas indianas. O principal exponente do ATS® é o grupo da própria Carolena, chamado FatChance BellyDance®, ou abreviado FCBD®. Para mais informações, acesse o site do FCBD.


***ITS - Improvised Tribal Style (ou estilo tribal de improvisação)



O ITS também é um derivado do ATS®, e indica simplesmente que um grupo utiliza o sistema de improvisação coordenada em grupo do ATS®, porém com repertório de movimentos que vai além, ou até mesmo em direções diferentes do utilizado no ATS®. Mesmo sistema de improvisação, repertório de movimentos diferente. Um dos principais exemplos que conheço de ITS é o grupo californiano "Unmata". Elas além de coreografia, trabalham o sistema de improvisação coordenada em grupo por meio de combos. Um outro exemplo de ITS mais novo, é o formato Datura, da Rachel Brice, que apesar de não usar a nomenclatura de ITS por conta de toda polêmica em torno do uso do nome “tribal”, é exatamente o que é! 


*** Tribal Fusion -


Esse estilo foi o principal responsável pela propagação mundial do tribal. Ele surgiu quando bailarinas do ATS® foram saindo para criar suas próprias estilizações e acrescentar ainda mais fusões ao caldeirão de influências. Não existe uma ordem certa de quem iniciou esse movimento, pois na época não havia nem pretensão e nem consciência de que isso tomaria proporções tão grandes. Apenas aconteceu que, algumas bailarinas/alunas de Carolena, quiseram se aventurar em suas próprias experiências, dando vazão à criatividade e fazendo uma fusão em cima da fusão. Daí o nome "Tribal Fusion": é o "tribal" do ATS® acrescido de fusões do que a imaginação permitir, seja de origem oriental ou ocidental, antiga ou moderna. Algumas das bailarinas apontadas como pioneiras do Tribal Fusion e que estavam na cena desde o começo foram Lady Fred, Jill Parker, Rachel Brice e Heather Stants, entre outras. A cena acontecia quase que exclusivamente na região da baía de São Francisco, CA. Como o Tribal Fusion não tinha um formato específico como o ATS®, bailarinas solo surgiram, até que o grupo internacional BellyDance Superstars lançou o estilo para o mundo, e as bailarinas do grupo, como Rachel Brice, Sharon Kihara e Mardi Love viraram referência instantânea do estilo. 


Do Tribal Fusion, surgiram e ainda surgem muitos sub-gêneros como o Dark Fusion, praticado pela Ariellah, o Tribal Brasil, praticado por várias bailarinas brasileiras que misturam ao Tribal Fusion influências de danças regionais brasileiras, como Kilma Farias, Samra Hanan e Cia Shaman, o Tribal Gótico, e assim por diante. Muitas bailarinas criam um nome para seu estilo pessoal, daí vão se criando cada vez mais sub-gêneros... Mas o importante é saber que todos eles vêm da mesma raiz, e são apenas mais um pequeno desdobramento da grande e constante evolução que é o estilo!


quarta-feira, 17 de agosto de 2022

Por um Estilo Tribal Brasil(eiro) pt.2

 A única época em que sofri bullying na escola, eu ouvia aos berros enquanto passava, que eu era “baiana". Era bem nova e ficava pensando naquilo... Baiana é quem nasce na Bahia, oras! Isso não é xingamento! Para ela (loira de olhos azuis) e para muitas pessoas aqui da região sudeste, ser "baiana" implicava em se vestir ou usar roupas ou acessórios chamativos ou que não combinam.

Anos depois, penso que a Carmem Miranda imitava uma baiana com trajes típicos e fez carreira em cima da imagem. Sua figura é icônica até hoje, e nem brasileira ela era. Penso que tive o prazer de visitar a Bahia duas vezes a trabalho e que amei tudo que vivi lá. Penso que tenho amizades com pessoas incríveis da Bahia, e Salvador é uma das cidades que visitei que mais me encantou. 

Na Bahia também, presenciei um comentário de uma bailarina estrangeira que dizia que geralmente vendia as roupas mais coloridas "em lugares como esse aqui", com um tom de ironia. 

Então quem sabe a ironia da gringa é a mesma do país, das partes Sul e Sudeste principalmente, que ainda menospreza uma porção tão grande de seu território por uma visão eurocêntrica. 

A visão que nos separa e consolida a falta de senso de identidade na dança, na vida. Espero que ainda haja espaço para nos apropriarmos de tudo que temos de bom, tudo que podemos ser. Especialmente com as eleições chegando. Que a gente vote pelo país inteiro e não só pela parcela que já tem o que é necessidade básica, olhando só para o próprio umbigo e para o eixo “padrão global” Rio-SP.

E se hoje em dia já se sabe que é feio menosprezar o lugar de nascimento de alguém, ainda carregamos muito desse preconceito escondido (nem tanto). Que possamos evoluir para além desse pensamento colonial. 

quarta-feira, 3 de agosto de 2022

Por um Estilo Tribal Brasil(eiro)

Pessoalmente está muito marcante o tema do estilo tribal brasileiro nas últimas semanas. 
Não no sentido de "Fusão Tribal Brasil", mas num sentido de identidade. Algo que nos distinga, que faça com que ao redor do mundo sejamos reconhecidas por essa marca. 

Temos nossas peculiaridades na constituição física e no movimento. Porque então não temos uma marca específica, algo que faça as pessoas comentarem "ah sim, aquele estilo das brasileiras, sei como é!"...

Já crescemos demais e temos um bom número de profissionais qualificados. Mas, ainda podemos amadurecer mais no quesito de apropriação do estilo. Já sabemos toda sua linhagem e o que podemos alcançar com a criatividade que nos permite.

Temos referenciais do estilo norte americano, europeu e russo por exemplo, bem delimitados enquanto "escolas". Vejo diversas linhas nos EUA, seguindo mais as fontes de Jamila Salimpour ou Masha Archer, ou mais modernizados com referências do "The Indigo" e suas integrantes ou até mais puxado para o  cabaret americano. Vejo o estilo europeu como mais experimental, mais "simplificado" nos trajes e puxado para a dança contemporânea. O estilo russo tem os trajes mega brilhantes, deslocamentos, movimentos de impacto, muito alongamento, pernas e braços e uma tendência para músicas eletrônicas ou para o lado dos Balkan (sem surpresa aí rs). 

Gostaria de poder acrescentar a essa lista características bem brasileirinhas em que puxamos a sardinha para nossos pontos fortes! Investir em investigar o que podemos trazer de único para o estilo em termos de movimento, leitura musical e onde estão nossas afinidades em relação às raízes, sem "estar devendo" ser longilínea e ter o quadril estreito, entre outras coisas que se distanciam dos padrões da grande maioria de nós por aqui!