quarta-feira, 23 de fevereiro de 2022

A importância do alinhamento

 Se tem uma coisa que eu gostaria de ter sabido desde o primeiro dia que entrei numa sala de aula pra me movimentar, é sobre a importância do alinhamento correto e consciente. Tudo que fazemos relacionado ao movimento necessariamente passa por esse lugar. É claro que cada um tem características corporais específicas que permitem que sigamos mais ou menos os parâmetros do que é "ideal" em termos de alinhamento, mas como no fim todo corpo é composto das mesmas partes, por assim dizer, existem sim princípios universais aos quais temos que prestar atenção.

Seja nas posturas de yoga, no treino funcional, na dança ou no alongamento, o alinhamento correto vai permitir que você evolua dentro da técnica, melhore sua postura e sua flexibilidade progressivamente e o melhor, de forma completamente segura. Quantas vezes não excedemos um limite do corpo por escolher a amplitude em vez do alinhamento? Queremos ir láááááá longe no alongamento sem respeitar onde o corpo está agora, nesse momento. Na dança acontece a mesma coisa... às vezes queremos fazer um movimento bem grandão e esquecemos de sentir como o corpo responde àquilo, se realmente estamos preparadas fisicamente para ir na amplitude máxima.

Respeitar os princípios do alinhamento é algo que requer bastante atenção, estudo, consciência corporal e paciência, pois às vezes os resultados podem parecer demorar mais para vir . Mas vale muito a pena e os resultados sempre serão mais duradouros e sustentáveis,  pois assim estaremos sempre protegendo as articulações e garantindo uma vida "útil" longa e saudável para continuarmos nos movimentando sem lesões por muitos e muitos anos. Nas minhas aulas eu sempre reforço as diretrizes básicas para execução segura tanto no aquecimento e no alongamento quanto na dança, e na yoga também. Muitas vezes em sala de aula vejo pessoas que dançam há muito tempo e que ainda não tem essa consciência, e isso se reflete em qualquer movimento que a pessoa faz. Se reflete na maneira como nos movemos na vida, que dirá na dança!

Em resumo, seu progresso em qualquer modalidade de movimento com certeza será muito mais notável a longo prazo se você se movimentar atento ao alinhamento. Busque páginas na internet ou no Instagram que explicam o alinhamento correto nos alongamentos ou nas posturas de yoga. Spoiler: serão os mesmos dos movimentos que você faz para dançar! A vantagem é que como o corpo é um só e tem uma capacidade limitada de movimentos articulares, uma vez aprendido, você não esquece mais! Alinhe-se! ;)

sexta-feira, 18 de fevereiro de 2022

Sobre inspiração e criatividade

Muitas vezes quando pensamos em inspiração e criatividade pensamos que esses são atributos sobre os quais não temos controle e que às vezes estão disponíveis para nós e às vezes não... E acredito que isso seja parcialmente verdade! Mas acredito também que é muito mais uma questão de reconhecer quando estamos nos sentindo criativos e inspirados, e pode ser em momentos "inconvenientes" ou não ter nada a ver com o momento que realmente nos dispomos, ou precisamos criar algo. 

Na verdade a inspiração pode vir a qualquer hora, e nem sempre ela vem do lugar esperado. 
Por exemplo, às vezes esperamos que ela venha de uma música, ou de assistir a uma dança da qual gostamos, mas precisamos estar receptivos para perceber quando ela vem de onde não esperamos. Às vezes uma foto, um padrão geométrico, uma cena na cidade, um cheiro ou um sabor. 
Aprender a reconhecer a inspiração em suas muitas formas ajuda na criação. E quando ela surgir, se possível, dê vazão a ela. Se não puder, anote a idéia e retome depois. 

As muitas facetas da vida nas quais operamos também recebem o nosso poder criativo o tempo inteiro. Resolvemos problemas, atuamos no plano material e manipulamos elementos diariamente. Sentir esses momentos de criação diária como uma outra forma de ser criativo ajuda a manter o fluxo das idéias em movimento. Enfim, me parece que a inspiração sempre vem quando menos esperamos, e estar atento no dia a dia para recebê-la me parece uma ótima forma de fazer com que ela continue vindo!

quarta-feira, 9 de fevereiro de 2022

O analógico e a velocidade do tempo digital

 Já faz uns bons anos que tenho uma vitrola em casa. Toda vez que mexo na vitrola, é como adentrar uma outra zona de tempo. Os discos são grandes e frágeis, a agulha e o braço dela são delicados, cheios de fiozinhos que requerem o manuseio cuidadoso. Se o disco cair, pode arranhar ou até quebrar, e a brincadeira acaba ali. Quando acaba um lado, você não pode simplesmente ficar sentado e apertar o play pra continuar ouvindo música. Você precisa levantar e repetir o processo todo de novo, com o mesmo cuidado de antes. Às vezes o disco está sujo e precisa ser limpo antes de ouvir. Às vezes entra poeira na agulha e você tem que levantar pra limpar e continuar ouvindo. Ouvir discos em vinil na vitrola é um exercício de presença. Tudo que é analógico e requer um manuseio consciente, é um exercício de presença. 

Então me pergunto o quanto a dança contemporânea (na qual incluo os gêneros de dança que pratico, a dança do ventre e a fusão), não está impregnada pela urgência dos nossos tempos, a rapidez do digital. Para alcançar a velocidade dos algoritmos, é necessário produzir muito, rápido, para consumo imediato e igual rapidez no descarte. 

Sabemos que a pressa e a necessidade de produtividade nunca foram amigos da manifestação artística. O fazer artístico é um processo analógico, e não digital. Requer tempo e presença, atenção e cuidado. 

Observando grande parte de como a dança acontece nas mídias sociais, o que  importa é quantos movimentos acontecem a cada contagem. Quantos padrões de braços impressionantes e diferentes você consegue colocar em cada respiração. E a respiração? Não há tempo para que seja completa, profunda, abdominal. É melhor que ela seja rápida e superficial, assim conseguimos fazer mais e mais por minuto. A dança encarada pelos parâmetros digitais é exaustiva, não tem repouso. Ter que “mostrar serviço” em 1 minutinho de vídeo não permite que sejamos absorvidos por um momento em que o tempo fica suspenso, deixa de existir. Essa não seria afinal uma das funções da arte? Fazer o tempo parar...

Nesse contexto, que nós possamos nos permitir saborear o movimento, nos permitir o deleite de uma demorada e cuidadosa execução. Calma. Respirar, dando respiro também a quem assiste. A crise pela qual passamos agora é do ar. Será esse o motivo da nossa urgência? Respira fundo, profundo... Afinal, como me lembro de ouvir em uma das aulas da Sônia Mota: dançar é ficar em casa. 



quarta-feira, 2 de fevereiro de 2022

um pequeno conto pessoal

Nunca tive corpo de bailarina...Não sou super magra, tenho pernas curtas e grossas, quadril grande... ahhh mas a dança! 

Desde que me conheço por gente eu amo a dança! 

Minha primeira experiência/tentativa de uma aula de balé falhou antes mesmo de começar. Eu, uma criança muito tímida, chegando na escola de balé já achei que não ia me dar bem ali, nem cheguei a fazer uma aula. Vieram então as aulas de jazz. Fiquei por uns 2 anos, e me apresentei no palco algumas vezes. Sempre adorei o palco, meio antagônico pra uma criança tímida, mas era o que era. Minha mãe me conta que eu não podia ver um palco que já ia correndo pra subir!

Com minha breve experiência no jazz, tinha criado uma coreografia com os movimentos milimetricamente copiados (os que eu conseguia) do clipe "Vogue" da Madonna pra apresentar com as coleguinhas no centro espírita que frequentava com a família. A música não lembro qual era, mas a coreografia era cheia de Vogue, e a Madonna chegou no centro espírita! A segunda coreografia que fiz pro centro já foi "em parceria" e me lembro do meu total desagrado de não ter autonomia nas escolhas de música, dos passos que iam entrar na coreografia... 9 anos e tão cheia de visões sobre o que eu queria ver no palco rsrs

Avançando alguns anos, com 21 encontro uma matéria de revista, ou jornal, não lembro, explicando sobre os benefícios da dança do ventre, e como era uma dança que podia começar com qualquer idade e tipo físico. Resolvi experimentar, no Clube Sírio Libanês da minha cidade. Me senti bem recebida pela professora, pelas colegas, me sentia pela primeira vez "adequada" em algum lugar que era relacionado ao movimento, e fui ficando. Sou muito agradecida por ter caído de paraquedas na aula da Jannah, que sempre me incentivou tanto. Talvez se tivesse ido parar em uma aula em que a dança não era levada tão a sério, não teria dado outra chance. A Jannah botava a gente pra ralar de verdade e eu tinha colegas incríveis que me inspiravam muito. Uma delas, a Lili Hanaah, é minha amiga até hoje, já dançamos até tribal juntas. Mas tinha a Iris que era norueguesa e ficava umas temporadas, a Samra, e tantas outras que não lembro o nome. Obrigada pela inspiração!

Quando conheci o tribal pela internet (nem Youtube tinha ainda!), alguns meses depois de começar na DV, foi como chegar em casa, de novo!

Os figurinos me chamavam, combinavam com as tatuagens que eu já tinha, dava pra usar o meu cabelo curto porque haviam tantos adornos na cabeça que nem dava pra notar o cabelo, que geralmente era preso. Os tons de cores eram mais do meu gosto, os tecidos e texturas, toda a estética, postura, os movimentos e a expressão me agradavam demais. Parecia que dava pra eu ser quem eu era ali, sem precisar fingir ser outra coisa. Era como algo saído de um sonho que eu nunca nem tinha sonhado. 

Além disso, havia uma comunidade internacional online, o Tribes.net onde todo mundo trocava idéias, compartilhava achados, dicas, músicas, e você estava ali em constante contato com uma comunidade com interesses afins e as suas dançarinas favoritas, tudo em um lugar só! Era maravilhoso e eu passava horas e horas ali absorvendo tudinho que eu podia de informação, já que aqui no Brasil não tinha esse estilo do jeitinho que eu gostava ainda. Lembro do meu marido, que na época era namorado, falando: "De novo tá nesse site laranja?". O layout da página era branco e laranja! 😆

Tudo isso falou muito próximo do meu coração, vindo de encontro com imagens e ideais que eu tinha na minha cabeça, algumas que nem sabia que tinha, e tudo se encaixou como uma luva. Nunca tinha sentido isso em relação a nada que fiz na minha vida. Era como finalmente "chegar em casa", já em idade adulta, e me encontrar com quem eu sonhava em ser no futuro. Dediquei muito do meu tempo para desvendar o que tornava essa dança tão especial aos meus olhos, quais eram os segredos por trás da estética, a contextualização da postura e dos movimentos e o que a levava a ser como era. Eu não queria simplesmente copiar o que eu via, eu queria entender o que estava por trás de tudo aquilo. E quanto mais eu descobri, mais eu me apaixonei. 

Justamente por acreditar tanto no potencial dessa dança como ferramenta de evolução e crescimento pessoal e comunitário, físico e mental, que estou há 15 anos me dedicando à  expansão desse estilo, na esperança de que outras pessoas o encontrem e se sintam em casa, como eu me senti há todos aqueles anos atrás. Foi o que me fez criar esse blog, os vídeos pro blog, todas as aulas teóricas e palestras que preparei e todos os shows que produzo, é tudo pra isso. Então puxa uma cadeira, e sejam bem-vindas! :D