quarta-feira, 29 de junho de 2022

Sobre Mulheres e Dança

Que somos educadas, enquanto mulheres, para competir umas com as outras não é nenhuma novidade né? Uma cultura que estimula a rivalidade e competição feminina nos impele desde pequenas a enxergar com maus olhos outras mulheres e, por consequência, a nós mesmas. 

Percebi em todos esses 18 anos de envolvimento com a dança que muitas vezes temos atitudes machistas e competitivas sem ao menos perceber. Comentários maldosos sobre a dança, o corpo ou a roupa de outras colegas infelizmente são coisas comuns no dia a dia de quem está nesse meio. 


Observando isso, percebo que a mudança mais importante é a que começa por mim. Perceber quando estou sendo machista nas minhas colocações, na minha visão e até mesmo na maneira de olhar o trabalho de outras mulheres que dançam me ajuda muito a enxergar esse machismo ao redor e em mim mesma, que por mais que tente fugir, está enraizado em todos nós.


Muitas vezes percebi que minha postura em relação às minhas maiores referências ia mudando com o tempo, por perceber que aquela pessoa não é perfeita à prova de erros e nem um modelo ideal da minha própria expectativa. E já vi muito esse processo acontecer ao meu redor também. Quanto mais admiramos o trabalho de uma mulher, maior a expectativa que colocamos em cima dela e mais fácil fica nos decepcionarmos se algo não alcança essa expectativa. Mas o quão justo é esperar que alguém viva e trabalhe para atender às suas fantasias? Porque exigimos tanto assim de alguém que muitas vezes não é nem próximo da gente? 


Entender que todas somos humanas e cometemos erros, e estamos sujeitas às mesmas confusões que qualquer ser humano normal é um bom passo para reduzir expectativas fantasiosas a respeito das nossas “ídolas”. E a pergunta que realmente me faço é: será que temos o mesmo nível de exigência com nossos ídolos masculinos? Deixo com vocês essa questão! E aí, faz sentido pra você essas coisas que coloquei? Você já presenciou algo parecido? Fiquemos atentas e até semana que vem!

quarta-feira, 22 de junho de 2022

O medo do erro

 Novamente essa semana venho complementar a idéia da semana passada! Estamos tendo muitas trocas interessantes nas aulas dessa semana, e venho compartilhar aqui algumas delas com vocês. 

No que diz respeito à experimentar, sabemos que quanto mais experiência temos, mais existem expectativas em torno do nosso trabalho e mais suscetíveis estamos ao julgamento alheio, coisa que pode ser bem paralisante né? O medo de errar existe e é bem genuíno rs. O que não podemos deixar que aconteça é que ele nos impeça de criar. O ato criativo é bagunçado, ele não é previsível e a gente nunca sabe se o resultado final vai atender às nossas expectativas, que dirá a dos outros! Por isso a criação é importante, e não a tentativa de perfeição que não existe. 

Digo que esse post é complementar ao outro por esse motivo: "oras, mas você não falou para delimitar melhor os contornos do estilo e deixar as experimentações de fora?". Justamente! As experimentações são o que o trazem a nossa evolução pessoal, o nosso estilo de dançar, nos alimenta e nutre o criativo de outra forma. Mas nem tudo que fazemos de forma experimental precisa entrar num show que se denomine de "Fusion Bellydance", por exemplo... Existem vários meios de mostrar trabalhos, e novamente, que a gente experimente muito e livremente, mas sem a necessidade de colocar tudo embaixo do "guarda-chuva" do tribal. Vamos deixar que as experiências corram soltas, que as linguagens ou não-linguagens se misturem, conversem entre si e desabrochem no nosso corpo e na nossa movimentação. Isso é lindo e necessário! Não deixe que o medo de errar te impeça de explorar suas potencialidades. Mas que tenhamos lugares apropriados para isso também, e possamos fortalecer e deixar sólida cada vez mais a imagem desse estilo para que possamos ter como explicar para os outros o que fazemos, para que possamos divulgar de maneira concreta o nosso trabalho, e fortalecer a nossa dança e sua comunidade cada vez mais (de novo) pelo mundo.

quarta-feira, 15 de junho de 2022

Novas Reflexões para Novos Tempos

 Semana passada coloquei uma caixinha de perguntas no meu Instagram e tive umas respostas e conversas bem interessantes que me ajudaram a refletir sobre os novos rumos que nosso estilo de dança está tomando. 

Se olharmos para a linha do tempo, ele tem cerca de 20 anos, e portanto apenas agora entrando realmente na maioridade por assim dizer rsrs. Não existe mais aquele furor inicial, aquela sede de inovação e descoberta, experiências novas... Agora estamos em um outro momento em que muitas de nós já vimos muita coisa ser feita, e já temos todo um passado para estudar olhando de longe. Para um estilo novo, nascido no final dos anos 90, cheio de referências, é um tempo justo para que agora estejamos finalmente refletindo sobre a nossa prática para que possamos aprofundar nosso entendimento e dessa forma, melhor educar nosso público e garantir melhor um futuro sadio para essa dança que tanto amamos. 

No momento me encontro no meio de muitos questionamentos, dificuldade de definir o que eu faço para novas pessoas, dificuldade de nomear e também de explicar de forma clara e abrangente. Na real, essa dificuldade eu sempre tive e agora ela só piora porque sei que é também a dificuldade de muitos outros. 

Tenho pensado que uma forma de tentar lidar com isso, mesmo que não seja a única ou a melhor, é começar a questionar cada vez mais o porque das nossas escolhas, sejam elas musicais, de figurino ou de repertório de movimentos. Penso que se esse movimento todo em volta do nome e da ética em nossa prática serviu para alguma coisa, foi para nos fortalecermos em nossos conceitos, em nossos porquês e também no que esperamos para o futuro do estilo. 

Definir melhor para preservar melhor é o que tem passado pela minha cabeça ultimamente. Definir melhor primeiro para nós mesmas, procurar nossas próprias respostas para que isso também tenha força e sentido na comunidade. Creio que esse foi o ponto fraco que não previmos, nunca houve um consenso né? Talvez se não tivéssemos nos mantido tão abertas para abraçar e receber toda e qualquer experiência como parte do estilo, ele tivesse conseguido se manter um pouco mais firme. E com isso, não quero dizer que não devamos nos manter abertas para experiências novas dentro da dança e da linguagem, apenas que talvez seja uma boa idéia manter as experiências bem definidas como tal: trabalhos experimentais, autorais. Assumir a experiência, assumir a autoria e não "botar na conta" do estilo. Algumas das minhas bailarinas favoritas são bem experimentais, e não vejo nenhum problema nisso!

Que busquemos perguntas e respostas para um futuro bem sucedido e, com esperança, longínquo! 

quarta-feira, 8 de junho de 2022

Figurinos e História

 Engraçado como às vezes a gente esquece do passado e do que um dia era sonho né? Lembro das primeiras vezes que vi apresentações de Fusion Bellydance (que na época todo mundo chamava de Tribal Fusion mesmo) o quanto fui atraída pelos figurinos. Pareciam uma mistura de acessórios comuns do dia a dia com itens raros de coleções antigas, muito antigas. O resultado era uma mistura única de passado e presente, antiguidade e contemporaneidade, e aquilo era muito fascinante pra mim. Hoje penso que isso é tanto do que compõe esse estilo de dança também. Tradição e inovação andando de mãos dadas. 

A idéia de o traje poder ser composto de coisas de que eu gosto, um amontoado de pecinhas cheias de significado e histórias por trás, era e ainda é um atrativo enorme pra mim. Outro dia estava arrumando meus figurinos e fui percebendo quantas combinações ainda não usei, e como tenho aquelas peças favoritas, que quase sempre estão comigo em qualquer apresentação, quase como amuletos. Quando comecei, há 20 anos atrás, sonhava em um dia ter uma pequena coleção, composta por aqueles itens de joalharia antiga de outros povos, que eu admirava tanto pela força e pela beleza, e pelo tanto de peso (literal e figurativamente) que eles traziam pra imagem da dançarina. Nesse dia em que estava arrumando as coisas, fiquei feliz de perceber que eu consegui minha pequena coleção! E pra dançar, ainda sinto que meus figurinos favoritos são aqueles que são compostos pela mistura de itens e não aqueles que são feitinhos para serem conjuntos. Nos meus processos já fiz as duas coisas, tanto montar "conjuntos" já planejados quanto aqueles que encontramos por acaso no meio dos trajes que já temos. Os meus favoritos  são os do segundo tipo. Leva tempo, paciência, às vezes um tantinho de saber bordar uma coisinha na outra (agradeço imensamente à minha sogra por me ensinar essa parte!) mas é essa construção que torna tudo mais especial do meu ponto de vista. Pra mim é como subir no palco fantasiada de mim mesma! rs Não sinto como algo fora de mim, um personagem. É uma faceta minha que não exerço em outro lugar, apenas isso. Mas nunca uma "fantasia" ou algo de que eu me envergonhe, ou queira esconder. Acho que é assim que um bom traje nos faz sentir! E descobrir os trajes que faziam isso por mim foi tão, mas tão importante no meu processo! Por isso que é um dos itens que faço questão de abordar nos projetos de mentoria para performance. Você precisa subir no palco se sentindo muito bem com sua roupa. É quase um super poder hehehe!

Um dos sonhos recorrentes que eu tinha alguns anos atrás era de que eu ia me apresentar, estava prestes a entrar no palco, e percebia que tinha esquecido todos os meus acessórios, ou o figurino completo de uma vez. Tava mais pra pesadelo do que pra sonho! rs Um dia esse sonho quase se concretizou, esqueci meus colares e headpiece, que já é muito! A sorte foi que ia dançar com minhas alunas e tinha acabado de passar numa loja de bijus e feito a limpa pra levar acessórios pra complementar o figurino delas. Então acabei usando essas mesmas pra substituir as que eu tinha esquecido. Já fiz performances mais clean, intencionalmente, mas mesmo nessas tenho aquelas peças chave que não tiro, os tais amuletos. Mas alguma coisinha sempre está ali pra ajudar a materializar a minha visão do estilo. E pra você, o que seus figurinos representam?

quarta-feira, 1 de junho de 2022

Motivação em momentos de desânimo

Essa semana ainda não sabia sobre o que eu ia escrever então fui atrás das sugestões de vocês! Achei apropriada pra ocasião uma das sugestões, que foi "O que te motiva em momentos de desânimo" e senti vontade de falar um pouquinho sobre isso aqui!

Pra ser bem sincera, no cenário político e mundial atual, na dança e fora dela, frequentemente existem momentos de desmotivação da minha parte. E acho que, em boa parte das vezes, o que eu faço é não forçar. 

Nesse trabalho existem coisas que são necessárias, que você tem que fazer: manter atividade nas mídias sociais, responder mensagens, enviar informações, dar aulas, montar aulas, tudo isso é o básico necessário. Não sinto que preciso estar ultra motivada 100% do tempo para realizar o meu trabalho, pois isso não é realista em nenhum trabalho, seja ele qual for. 

Mas às vezes, para manter um nível de produtividade e animação mínimos, eu preciso sacudir um pouco a poeira. Fazer uma boa aula, seja de yoga ou de dança, antes de fazer o que preciso costuma fazer muito pela minha motivação, falando de um jeito prático mesmo! Precisa gravar um vídeo ou montar uma aula e está sem inspiração? Faz uma aula que a energia flui e você não termina a mesma do que quando começou, garantido. 

Um outro caso que acontece muito por aqui é quando preciso criar algo, seja uma performance, uma sequência nova, e me perco em meio a um turbilhão de idéias e acabo não decidindo nada. Isso acaba me desmotivando e me coloco numa procrastinação infinita e nunca realizando o que preciso, o que me deixa muito desmotivada no final. Então muitas vezes o que preciso fazer é apenas escolher algo e fazer. Sem pensar muito, sem problematizar, apenas fazer. Quando ficamos enchendo a cabeça com a idéia de que temos que fazer algo que seja perfeito, a gente acaba não fazendo nada. E não há nada mais desmotivador do que ter um monte de idéias e não fazer nada. Então abaixar um pouquinho o perfeccionismo ajuda muita às vezes. 

Agora falando de uma forma mais ampla na dança, se estamos passando por um momento de desânimo por algum motivo, sempre me ajuda retornar aos materiais que me fizeram chegar até aqui. O que eu assistia no começo que me fazia sentir que aquilo era especial, as fotos, os vídeos, os figurinos, os sons, entrar em contato e refinar cada vez mais a minha percepção do porque eu escolhi a dança, o que fez eu me apaixonar e me firmar nisso, tentando fazer o meu trabalho de uma forma que honre essa Mariana do passado que era totalmente obcecada por isso. Nem sempre buscar inspiração no novo vai te deixar motivada, às vezes é bem o contrário!

Pra finalizar, às vezes se o desânimo tá brabo mesmo o melhor é dar tempo ao tempo, se afastar um pouco na medida do possível e não forçar a paixão novamente, deixa ver se ela volta! A distância também ajuda a ver as coisas de uma outra forma e frequentemente é isso que a gente precisa pra voltar a ver algo com um novo olhar, fresco de novo. É isso! Espero que alguma dessas idéias faça sentido pra vocês e possa ajudar de alguma forma! Até a próxima semana! ;)