A única época em que sofri bullying na escola, eu ouvia aos berros enquanto passava, que eu era “baiana". Era bem nova e ficava pensando naquilo... Baiana é quem nasce na Bahia, oras! Isso não é xingamento! Para ela (loira de olhos azuis) e para muitas pessoas aqui da região sudeste, ser "baiana" implicava em se vestir ou usar roupas ou acessórios chamativos ou que não combinam.
Anos depois, penso que a Carmem Miranda imitava uma baiana com trajes típicos e fez carreira em cima da imagem. Sua figura é icônica até hoje, e nem brasileira ela era. Penso que tive o prazer de visitar a Bahia duas vezes a trabalho e que amei tudo que vivi lá. Penso que tenho amizades com pessoas incríveis da Bahia, e Salvador é uma das cidades que visitei que mais me encantou.
Na Bahia também, presenciei um comentário de uma bailarina estrangeira que dizia que geralmente vendia as roupas mais coloridas "em lugares como esse aqui", com um tom de ironia.
Então quem sabe a ironia da gringa é a mesma do país, das partes Sul e Sudeste principalmente, que ainda menospreza uma porção tão grande de seu território por uma visão eurocêntrica.
A visão que nos separa e consolida a falta de senso de identidade na dança, na vida. Espero que ainda haja espaço para nos apropriarmos de tudo que temos de bom, tudo que podemos ser. Especialmente com as eleições chegando. Que a gente vote pelo país inteiro e não só pela parcela que já tem o que é necessidade básica, olhando só para o próprio umbigo e para o eixo “padrão global” Rio-SP.
E se hoje em dia já se sabe que é feio menosprezar o lugar de nascimento de alguém, ainda carregamos muito desse preconceito escondido (nem tanto). Que possamos evoluir para além desse pensamento colonial.