quinta-feira, 29 de dezembro de 2011

Retrospectiva Tribal 2011

Quase acabando o ano, quis relembrar os eventos de tribal de que participei em 2011, e o que teve de mais legal em cada um!

O primeiro foi o Campo das Tribos, em maio, organizado pela Rebeca Piñeiro em São Paulo. O Campo está indo para sua quarta edição em 2012, até então era um evento exclusivamente com bailarinas brasileiras de todo o país, feito por quem é do tribal e para quem é do tribal. Acho que essa é a parte mais legal do Campo, é um evento que abrange as variedades de tribal e dá espaço para todo mundo mostrar seu trabalho nas mostras, independente do estilo. O que importa é ser tribal! E participando esse ano foi exatamente o que eu senti, inclusão e ATS, Tribal Brasil, ITS, Tribal Fusion, Dark, tudo convivendo em harmonia! Em São Paulo é o único evento exclusivamente de tribal que reúne várias professoras e estilos em um só lugar. O Campo também tem workshops, e em 2012 terá a linda presença da Frèderiquè, uma das pioneiras no Tribal Fusion (e das minhas bailarinas preferidas) pela primeira vez no Brasil, junto com a Kilma Farias e comigo em works e show. Mal posso esperar! :D

Mas, como é hora de olhar para trás e não para frente, volto ao segundo evento de que participei esse ano, o Tribes Brasil, com a presença da Ariellah. O Tribes aconteceu em junho e foi organizado pela Nadja El Baladi e pela Jhade Sharif no Rio de Janeiro. O Tribes é outro evento que eu curto muito, participei em 2009 e novamente esse ano. O local é super especial, um colégião antigo e lindo com direito a um teatro igualmente lindo. O evento esse ano foi mais voltado para a estética Dark Fusion da Ariellah no espetáculo e nos works. Mas o que mais me chamou atenção foi o teor dos workshops da Ariellah, todos com muita ênfase em expressão e aspectos mais conceituais da dança, incluindo várias partes teóricas e espaço para troca de idéias. Já havia feito outros workshops com ela, no Tribal Fest 08 na Califórnia e aqui no Brasil no Encontro Internacional Bele Fusco, e embora aqui no Brasil ela tenha dado um work praticamente todo teórico, todos os demais foram bem técnicos. Outra ênfase dela foi na importância do estudo de ballet e outras danças na formação de uma bailarina que sabe utilizar espaços, padrões de pés, giros e tudo que faz parte de qualquer estilo de dança. Ou seja, a era das bailarinas de tribal que só ficam plantadas no palco fazendo carão está definitivamente terminada! rsrsrs

O evento seguinte de que participei esse ano foi o já tradicional Encontro Internacional Bele Fusco, com a presença da bailarina de DV Sonia Ochoa e da tribal Kami Liddle em setembro. A surpresa foi o enfoque nas fusões justamente por parte da Sonia, que deu nos workshops fusões latina e indiana, além de técnicas para dançar solos de derbak. Ela é uma bailarina de elegância e leveza notáveis, e como professora e pessoa, super doce e acessível. A Kami focou mais em técnicas elaboradas que se tornaram sua marca registrada, com sobreposição dos movimentos (layering) e uso dos braços com fluidez, além de sequências coreográficas. Achei todo o trabalho dela de leitura musical e composição dos movimentos incrivelmente sofisticado e peculiar; já havia feito um work com ela no Tribal Fest 08 mas com tanta gente e tão pouco tempo de aula, mal pude sentir como era seu estilo. Dessa vez com mais contato pude perceber todo detalhe e cuidado na elaboração da dança. Achei inspirador!

O último evento da minha pequena maratona desse ano foi o Shaman's Fest em setembro com a Mira Betz em Rio Claro, organizado pela Paula Braz e pela Cia Xamã. Esse evento foi bem único e especial. Novamente, o destaque foram as aulas mega conceituais da Mira. Nunca havia estudado com ela, e exatamente como todo mundo diz, ela é uma professora excelente. Mira não te ensina passos. Ela te ensina a criar passos. Mira não te ensina como dançar tribal, ela te ensina o que é tribal. Ela te ensina técnicas, como sustentar sua postura, como manter seu corpo seguro dançando. Além disso, muitos treinos com técnicas teatrais, muita teoria, muita conversa. Muito bom. No meio do mato então, foi uma lavada na alma essa imersão. Muito espaço para reflexões e questionamentos sobre seus caminhos na dança. 

Para mim, o que ficou mais marcado nos eventos nacionais e internacionais desse ano foi o fim das ditaduras de estilo, de receber pronto, de copiar. Já pensava e pregava essas  questões há um bom tempo, mas foi um belo reforço e uma bela mostra de todas as ferramentas que podemos utilizar para colocar  essas questões em prática. O tribal está mudando, ganhando cada vez mais espaço e respeito como uma dança legítima, como uma forma de arte legítima. E cabe a nós, bailarinas e estudantes, a responsabilidade de mantê-lo bonito e florindo cada vez mais!

Tenham um lindo 2012 com muita dança e alimento para alma! :D



*Em janeiro, pequeno preview dos eventos de 2012!


quinta-feira, 15 de dezembro de 2011

A "filosofia" do Tribal

Tem uma parte que eu gosto muito no tribal, que é a idéia que existe por trás do estilo. A proposta do tribal, a princípio, é a de reunir um grupo de mulheres para dançar e permitir que elas tenham um mesmo vocabulário de passos e possam dançar juntas e se divertirem até mesmo sem se conhecerem. Essa é a premissa do American Tribal Style (ATS), estilo que se desdobrou e teve um monte de crias, inclusive o Tribal Fusion. Junto com essa idéia, surgiram outras, como a de expandir a dança do ventre para além dos meios em que ela circulava, basicamente de bares e restaurantes. O tribal, por ser uma dança em grupo, era mais apropriada para ser apresentada em palcos grandes, teatros e afins, o que abria o leque de locais e público. Além disso, também existia a vontade de passar outra mensagem com o tribal, diferente da dança do ventre, e que também é muito responsável pela caracterização do estilo.

Esse grupo de mulheres dançando juntas não dança para agradar a ninguém, nem para exibir seu charme. Elas dançam para si mesmas, umas pras outras, sem se preocupar se são magras ou bonitas para os padrões da sociedade. É uma maneira de celebrar o fato de serem mulheres e confraternizar. Elas vêm em grupos, poderosas, e não sozinhas como as bailarinas de dv. Por esse motivo, a dança do ventre tribal acabou atraindo um novo grupo de mulheres que muitas vezes nem pensaria em fazer dv tradicional. Daí vem o fato de ter muito mais "gordinhas" do que na dança do ventre, muito mais tatuadas, e por aí vai. Além do mais, pode-se dizer que as roupas permitem muito mais a valorização de diferentes biotipos, não existe nenhuma regra que diz que ela tem que ser de determinada maneira, as possibilidades são inúmeras e não é preciso mostrar nenhuma parte do corpo se essa não for a vontade da bailarina. Por isso é que os grupos de tribal nos passam aquela impressão de imponência, de "sim, nós somos demais!"

Daí, é impossível não sentir que esse aspecto do estilo fica bem enfraquecido na modalidade solo. O próprio nome é contraditório: tribal solo. Não existe tribo de um. Mas o fato é que apareceram bailarinas solo que usavam as mesmas roupas e a mesma técnica dos grupos, caracterizando-as, por mais que parecesse contraditório, como tribal. E o engraçado é que essas bailarinas, ainda que sozinhas, passam a mesma impressão de "eu não tô nem aí pro que você pensa" dos grupos. E é aí que entra a parte filosófica da coisa: a idéia está lá, aquela é a semente, por mais que se dance sozinha, sabe-se qual é a origem de tudo e existe a preocupação de preservar a idéia inicial.
Eu senti uma diferença imensa de atitude na primeira vez que vi uma bailarina de tribal, por mais que ela dançasse sozinha, existia alguma coisa ali que a tornava muito diferente de todas as outras que eu já tinha visto até então. E eu acredito muito que esse algo a mais não eram apensa passos ou técnicas.

Escrito em 2007

Veja do que estou falando, e sinta-se á vontade para discordar:

ATS


Tribal Fusion