quarta-feira, 6 de julho de 2016

O corpo da dança

Conversando com uma colega esses tempos, discutíamos como o ATS tem um "corpo" específico, e sobre a dificuldade de conseguir esse "corpo".

Se compararmos com os esportes, por exemplo, o nadador tem um corpo, o corredor outro, o jogador de futebol outro... A gente até consegue adivinhar de qual esporte um atleta vem só de olhar para seu corpo! Nadadores têm ombros largos (bastante!), corredores são fortes porém muito esguios, têm uma leveza muscular, jogadores de futebol têm muita perna... e assim vai. 

Na dança não é diferente! Quando praticamos muito alguma coisa, o corpo ganha a memória muscular pela repetição, e isso vai moldando o tal do corpo da dança. Sem contar preparos físicos específicos que precisamos adquirir para melhorar nosso desempenho na dança, o que também vai moldando o corpo. Sem sair do universo das danças étnicas, uma dançarina de flamenco, por exemplo, costuma ter um torso forte, ombros mais largos pelas posturas de braço altas e vigorosas e tornozelos fortes pelo sapateado; as danças brasileiras trazem uma pelve pesada, enraizada, e pernas fortes por toda flexão de joelhos; dançarinas do ventre costumam ter um tônus muscular equilibrado, não muito alto e costumam ser flexíveis, de abdômen forte - o que não se limita a "barriga tanquinho", pode-se ter um abdomên forte sem ter tanquinho. 
E o ATS? O ATS traz postura altiva, não usamos quase movimentos laterais de torso o que traz um centro forte, peito erguido, braços bem desenvolvidos para suportar a sustenção alta quase que o tempo inteiro, quadris acentuados para o trabalho de repertório rápido... Uma configuração física diferente do tribal fusion, por exemplo, que enfatiza mais a flexibilidade, as lateralizações de torso, flexões da coluna em todas as direções e isolamentos fortes e precisos. 
Ao mesmo tempo em que esse corpo é fruto da dança ele é também facilitador dela. Quanto mais o corpo tiver sido moldado por aquilo, mais facilmente ele irá desempenhar a técnica. Por isso que é tão difícil adquirir o corpo de cada dança,  porque cada uma tem suas características físicas específicas, e muitas horas de treino estritamente na modalidade são necessários para adquirir essa identidade. E uma vez adquirida, você não se desfaz de uma hora pra outra, e muda a chavinha pra próxima dança. Torna-se parte de você, parte do seu corpo e tudo que você fizer a partir desse momento será construído a partir da configuração que você já tem. Leva anos para adquirir memória muscular nova a ponto de chegar no corpo de outra dança, e tenho sérias dúvidas sobre a habilidade de entrar e sair totalmente de uma dança pra entrar em outra. São caminhos criados no cérebro por anos e anos de treinamento, e a partir do momento que foi dada prioridade para uma dança em detrimento de outra, seu corpo habitua-se aquilo. Não dá pra imergir em tudo, e ter o corpo de tudo. Havendo priorizado a linguagem do Tribal Fusion por muitos anos, corri e corro ainda atrás do corpo de ATS. 
Por isso, acho legal ter essa consciência ao estudar. Quando você sabe o corpo de qual dança você quer, fica mais fácil ser bom em alguma coisa! ;)

4 comentários:

  1. Oi Mari!

    Bem interessante esse debate, mas fiquei pensando se ter o corpo de uma dança apenas não é limitador.

    Posso usar seu texto como referencia para um post de contraponto no meu? :D

    Beijos*

    *

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    1. Oi Ludmila! Eu acredito que esse "limite" é só um parâmetro, e não um limite de fato. E também, tudo depende do que cada um quer com a dança. Pode usar sim, sem dúvida! ;)

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  2. Gostei muito da forma como você levantou essa questão! Eu já havia refletido sobre isso, sem externalizar. Concordo quando diz que a dançarina desenvolve uma identificação visual através do corpo. Quando vamos assistir um festival, sempre digo que dá para saber qual dançarina veio do Ballet, qual veio da Dança do Ventre e qual é do ATS®, por exemplo. xD

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    1. Também sinto a mesma coisa quando vejo apresentações! O corpo dá "pistas" né! rsrs Beijos!!!

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