quarta-feira, 27 de abril de 2022

The Night Dances- Sylvia Plath

Essa semana trago um poema de uma das minhas poetas favoritas, Sylvia Plath. A escrita dela tem uma mistura de força e delicadeza que acho maravilhosa… primeiro o original, depois uma tradução (não feita por mim)

The Night Dances - Sylvia Plath

A smile fell in the grass.
Irretrievable!

And how will your night dances
Lose themselves. In mathematics?

Such pure leaps and spirals ——
Surely they travel

The world forever, I shall not entirely
Sit emptied of beauties, the gift

Of your small breath, the drenched grass
Smell of your sleeps, lilies, lilies.

Their flesh bears no relation.
Cold folds of ego, the calla,

And the tiger, embellishing itself ——
Spots, and a spread of hot petals.

The comets
Have such a space to cross,

Such coldness, forgetfulness.
So your gestures flake off ——

Warm and human, then their pink light
Bleeding and peeling

Through the black amnesias of heaven.
Why am I given

These lamps, these planets
Falling like blessings, like flakes

Six sided, white
On my eyes, my lips, my hair

Touching and melting.
Nowhere.

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As Danças da Noite - Sylvia Plath

Um sorriso caiu na relva. 
Irrecuperavelemente! 

E como irão perder-se 
As tuas danças nocturnas. Na matemática? 

Tão puros saltos e espirais - 
Certamente viajam 

Eternamente pelo mundo, não hei-de ficar 
Despida de belezas, o dom 

Do teu pequeno sopro, o cheiro 
A terra molhada, lírios, lírios. 

A sua carne não aguenta aproximações. 
Frios vincos de um ego, o narciso, 

E o tigre que se embeleza a si próprio - 
Sinais e uma chuva de pétalas de fogo. 

Os cometas 
Têm um espaço tão grande a atravessar, 

Tanta frieza, esquecimento, 
Assim se esfumam teus gestos - 

Calorosos e humanos, depois a sua luz rosa 
A sangrar e a pelar 

Entre as negras amnésias do céu. 
Por que me dão 

Estas luzes, estes planetas 
Caindo como bençãos, como línguas de luz 

De seis pontas, brancas 
Nos meus olhos, lábios, cabelo 

Ao tocarem desfazem-se. 
Em lugar nenhum. 

(Tradução de Maria Fernanda Borges, Relógio D'Água)

quarta-feira, 20 de abril de 2022

Algo um pouco diferente e um pouco antigo

 A mente é corrente. É fluxo, aprisiona e liberta. Corrente de rio, fluxo de água, a mente não cessa, cachoeira e prisão. A mente é corrente, corrente de rio, corrente de ferro, de aço que não dá pra quebrar, não enferruja, trilho de trem. Corrente sem ferrugem, corrente com ferrugem, e se saísse duas vezes repetido o que que tem? A mente é caminho, a mente é domada, ou não. A mente não mente e a gente mente. O ego mente, a mente não mente, mente é espelho convexo. 

quarta-feira, 13 de abril de 2022

Drill, Drill, Drill

 Certo! Estamos de volta essa semana com um assunto que muito me interessa, que é o fundamento absoluto da minha prática pessoal e eu tenho certeza que foi uma das coisas que mais me ajudou a alcançar qualquer coisa que eu tenha de bom na minha dança tecnicamente falando: o Drill! 

Mas o que é isso? Uma palavrinha danada, que nunca achei tradução adequada em português, basicamente significa treino. Mas não é qualquer tipo de treino. O "drill" (de acordo com o dicionário de Cambridge) é uma "atividade regular: uma atividade que pratica uma determinada habilidade e frequentemente envolve repetir a mesma coisa diversas vezes, especialmente um exercício militar com objetivo de treinar soldados". Então, vê como tem diferença de treino pra drill? O drill é aquela repetição que gente faz a mesma coisa até cansar, até sair, ou até ficar bom naquilo, basicamente. 

Eu amo fazer esse tipo de treino e considero ele totalmente necessário para qualquer habilidade em que a gente deseje desenvolver proficiência. E tem a ver também com aprofundar sua habilidade, com tornar o básico extraordinário. Se temos uma execução com erros posturais, de alinhamento, de ritmo, seja lá o que for e ficamos apenas repetindo do mesmo jeito sem corrigir, o treino obviamente não servirá para muita coisa. Mas quando treinamos com repetição para realmente melhorar, olhando com foco para o que está faltando, ou sobrando, isso faz com que elevemos muito a qualidade do nosso movimento. 

É também relacionado à paciência de quebrar em pequenas partes para descobrir o que está saindo errado no movimento. Percebo muitas vezes em aula, principalmente com alunas que tem mais anos de prática, que existe uma dificuldade em cultivar a paciência de quebrar um movimento que você já está acostumada a fazer em várias partezinhas menores, em "voltar duas ou três casinhas" de determinado movimento pra avaliar como ele está sendo executado. E isso às vezes é exatamente o que precisa pra você dar aquele passo à frente que tanto almeja. Voltar um pouquinho para então poder progredir. Não se engane: toda bailarina que você admira passa pelos básicos ao longo de sua trajetória, diversas e diversas vezes. O microscópico. Só assim a gente consegue progredir, melhorando ainda mais o que já temos de bom no corpo e juntamente com isso, adquirindo novas habilidades. Se o movimento básico não está ótimo, dificilmente algo mais complexo ficará bom. 

Por hoje é só pessoal! Invistam em seus treinos, caprichem sem pressa e os resultados virão com certeza! Um beijo e uma ótima semana pra vocês!

quarta-feira, 6 de abril de 2022

Pagando as conta$ com dança

 Esse tema foi sugerido quando abri a caixinha de sugestões no instagram, achei interessante porque não lembro de ter lido nada a respeito, então resolvi dar um tiquinho de atenção pra ele aqui! Afinal, é um trabalho como qualquer outro e quase nunca falamos sobre dinheiro no meio né? Talvez por essa idéia de que quem dança o faz por amor, o que não deixa de ser verdade, mas sabemos que amor não paga boleto né? Então vamos lá! Coisas que talvez ninguém tenha te dito sobre trabalhar com dança: 

1- Você precisa entender de onde vai tirar sua renda, provavelmente precisará exercer vários trabalhos pra conseguir juntar as pontas no fim do mês: dar aula de mais de uma modalidade, dançar em restaurante, dar aula particular, em grupo, workshop interestadual, online, editais e projetos… enfim cada profissional terá sua renda vinda de vários lugares e você precisa entender quais são os seus para focar propriamente em cada uma deles.

2- Você terá muitos gastos. Figurinos, roupas e materiais pra aula, anualidade ou mensalidade de aplicativos ou servidores que você usa pra divulgar/realizar seu trabalho, aulas pra se manter atualizado. Quem trabalha com o corpo precisa estar sempre atualizado, literalmente em movimento! Profissionais da dança precisam fazer aulas. Professores também. Pra dar aula, é preciso fazer aulas, se especializar e se atualizar constantemente pra entregar sempre o melhor possível. Isso também representa um gasto. 

3- Você vai ser seu treinador, seu marketeiro, seu figurinista, seu coreógrafo, seu organizador, planejador anual, muitas vezes designer, videomaker, fotógrafo, editor… são muitas e muitas funções que temos que exercer porque a maioria de nós é totalmente autônomo. Então quem vai planejar seus novos cursos, montar suas aulas, fazer a divulgação, bolar conteúdo, decidir quando é hora de renovar o guarda-roupa, fazer book novo, decidir quando precisa descansar, quando precisa trabalhar, tudo é você! Tudo mesmo! 😅

4- Por isso mesmo que falei acima, é muito fácil pirar, perder o foco, sair do giro. Então você precisa ter sempre muito claro pra você os seus porquês. Trabalhar com dança é um estilo de vida, e envolve tanto mais do que dançar. O seu dia a dia envolvida com o que gosta é a maior recompensa no final de cada dia. Não se fica milionário, na maioria dos casos. Talvez existam alguns isolados que aconteçam mas não é a realidade da maioria. Nem rico na real! rs. Então o que vale mesmo é como você passa seus dias, e saber exatamente quais são seus maiores prazeres dentro do seu trabalho vai te ajudar a alimentar isso pra que não perca o foco. Talvez seu maior estímulo esteja na prática pessoal e em evoluir cada vez mais. Talvez esteja em ver a evolução das suas alunas. Talvez em subir no palco. Talvez planejar e ministrar aulas e cursos. Claro que cada coisa tem o seu lugar especial, mas se identificarmos o que nos move mais, podemos investir mais nesses pontos e manter mais claro para nós mesmas o que nos trouxe até aqui. 

5- Acredito que seja muito difícil construir uma vida “do zero” só com dança. De novo, claro que existem exceções, mas num geral, comprar apartamento, carro, viajar e ter uma qualidade de vida, tudo ao mesmo tempo, não são muito compatíveis com a realidade de quanto se ganha na dança. Especialmente numa economia maravilhosa e estável (só que não) como a do Brasil. Então se você está atrás desses ideais, talvez seja legal repensar suas prioridades. 

6- Dito isso, emenda exatamente no que vou dizer agora: ter outro trabalho não significa que você é menos profissional ou menos apaixonado pela dança. Existem muitos artistas que sustentam por anos outros trabalhos pra garantir seu caixa, e não tem absolutamente nada de errado com isso (contanto que você não interfira com o mercado trabalhando de graça ou praticando preços injustos).



Espero ter ajudado a clarear alguns pontos sobre esse assunto, e como sempre, aceito sugestões de temas futuros!


Muito obrigada por me acompanhar e até a próxima!