quinta-feira, 10 de março de 2022

Percepções do próprio corpo e a Dança

Passada aí a semana do dia da mulher e nem tenho muito  o que comentar sobre isso tamanho o abismo que ainda temos que subir pra ter algo similar a igualdade de direitos em relação aos homens... Uma das coisas importantes nesse assunto é a forma como somos induzidas a perceber nossos corpos. Sempre com algum "defeito", alguma "falha", algo a ser corrigido, uma barriga que sobra, um cabelo que falta, uma pele que tem poros, uma sobrancelha que tem um fio fora do "lugar"... Aparentemente a liberdade de corpos serem apenas corpos, funcionais e saudáveis, é exclusivamente masculina. Mas isso é assunto pra outro post. 

O que eu gostaria de trazer hoje aqui como assunto, que venho pensando e discutindo nas minhas turmas desde o ano passado, é o quanto essa ditadura de padronização de beleza não nos atrapalha no objetivo de melhorar a nossa dança. Quantas vezes nos censuramos, seja em vídeo ou no espelho, não porque o movimento não está bom ou não sai, mas sim porque o nosso corpo tem algo que acreditamos ser inadequado e isso polui toda nossa visão a respeito de técnica e qualidade de movimento. 

Não vejo uma grande variedade de tipos físicos em evidência dentro do nicho do Fusion Bellydance, muito pelo contrário. Os padrões são sempre, e ao que me parece cada vez mais, eurocêntricos e "magrocêntricos". Será que não tá na hora da gente reeducar nosso olhar para ver beleza em outros tipos físicos na dança, em outros tons de pele, em outras construções de estética? 

Com a proliferação da dança restrita quase que exclusivamente às mídias sociais nos últimos dois anos, os algoritmos como sempre favorecem o capital. Favorecem a insegurança que é o que vende, e é o que mantêm em complexo de inferioridade. Imagina se todo mundo começa a deixar de ver problema estético em si mesmo? Como ficam as indústrias de cirurgia plástica, de cosméticos?

O que eu realmente me pergunto é o quanto de tempo e energia não gastamos em tentar mudar, ou nos sentirmos mal com o nosso próprio corpo em vez de apenas "usá-lo"para o que realmente queremos: dançar bem. Quanto a dança poderia ter evoluído tecnicamente se não fosse tão impregnada por esses padrões que nos escravizam, que escravizam nossos olhares, que influenciam o que assistimos, que tendenciosamente nos "educa" para o que é "bom. 

Desafio da próxima vez que assistirem suas bailarinas favoritas, que se questionem se ela representa um padrão de "capa da revista" e, se sim, buscar reeducar seu olhar para acomodar outras belezas, outros padrões, e com um pouco de sorte até, o seu próprio. A gente quer uma barriga negativa ou uma barriga que tem força e potência pra realizar seus movimentos de quadril e torso?


3 comentários:

  1. Post mais que necessário, que conversou diretamente comigo!
    Tenho uma dificuldade tremenda em me gravar, e essa questão de como enxergo meu corpo é um dos principais motivos (senão o principal)... essa reflexão é urgente, porque embora o assunto venha sendo mais discutido, percebo (inclusive, pelo meu próprio comportamento) que pouco se progrediu, na prática.

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    1. É verdade Ka! Também vejo algumas discussões a respeito mas pouquíssima mudança na prática mesmo. Mas, já que não podemos mudar o mundo, que a gente pelo menos consiga mudar, mesmo que a passo de formiguinha, nós mesmas né? Bjo querida!

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  2. Estou nessa fase: de me sabotar. Sempre vejo defeito em meu corpo, acho que o movimento não sai bonito porque meu corpo é disforme, me comparo... Estou quase largando a dança por não poder fazer alguns movimentos como agachar (pela condromalácia patelar)... Enfim, é sofrido...

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